As lagrimas do Natal: Um comentário sobe a ausência
☢️Atenção: Durante a pandemia, perdemos muitos entes queridos, então, caso você resolva ler esse texto… Saiba disso ☢️
As lagrimas do Natal: Um comentário sobe a ausência
De soluço em soluço, as lágrimas regavam o rosto marcado por antigas rugas e cicatrizes da mulher que primeiro perdeu um para ganhar três.
Das raízes que davam forma aos lábios finos, tendo sido enfeitados por cores e tinturas, e de sorriso outrora iluminado por um par de fileiras brancas e esguias de trinta e dois dentes, agora restavam-lhe três.
Suas lágrimas não eram de alegria. Seu choro era de perda.
O sentimento de ausência que apenas as situações mais desoladoras, os roubos mais violentos, os furtos mais perversos podem causar.
Apenas a perda da mãe consegue causar.
“Esse ano não teremos Natal, vocês não terão presentes”… Essa é a dor que milhões de famílias sentiram, essa é a dor que minha família sentiu.
Uma dor que só um desgoverno, ou governo a partir do ódio, pode infringir ao tentar arrancar do seio da família aquilo que mais amamos.
Não teremos presentes… Tudo bem, ainda assim teremos um ao outro, certo? Teremos uma ceia, mesmo que reduzida? Ainda teremos…?
Mas… e nossos vizinhos? Nossos irmãos? Enquanto a Ele?
Alguém o esperará para o jantar? O que haverá no prato que repousa sobre a mesa que os cupins cerceiam? Haverá prato algum, afinal?
Foram dois anos de morte, quatro anos de medo e mais quantos ainda podem vir se deixarmos a sombra do terrível passado continuar a nos atormentar e ocultar nossos futuros?
Graças a boa saúde das mulheres que me criaram e da garra dos antigos, nunca senti na barriga o vazio da palavra: FOME!
Mas… Ao sentir os olhos marejados de minha avó, eu senti o desespero da perda, da ausência, do vazio… Eu senti o desespero de milhares de mães, pais, filhos, netos, sobrinhos, senti o desespero daqueles que ficam, os que persistem, aqueles que precisam lutar.
O Brasil passa fome… fome de justiça; Seus vizinhos passam fome… fome.
Você? Eu não sei… Rogue a Deus que o vazio da palavra nunca invada seu lar, porque se isso acontecer, não haverá tempo para pensar em Democracia ou Justiça, você apenas pensará: O que meus filhos vão comer agora?
(Texto escrito anonimamente nos primeiros dias de 2021)